24 de dezembro de 2009


No Natal de 2009...

Lembro com saudade dos Natais de minha infância, das bolachas enfeitadas com açúcar colorido, do pinheirinho meio murcho, dos enfeites desbotados, muito algodão e cinco ou seis velas acesas, refletindo meus olhos cheios de espanto. O presépio de apenas três peças: José, Maria e o menininho Jesus, com a manjedoura quebrada. O medo meio disfarçado de que aparecesse na janela aquele Papai Noel assustador, de máscara plastificada. Ele nunca vinha e eu mascarava meu desapontamento. O desejo não atendido de receber uma bicicleta Caloi Cross. A nossa família ao redor da mesa, a galinha recheada e o vinho de garrafão (para as crianças,
misturado com água e açúcar). Depois, meu pai tocava gaita, minha mãe abria uma caixa de bombons, onde se escondia apenas um disputado Sonho de Valsa. Um sonho doce, uma valsa no teclado da gaita. E a gente ia dormir feliz.

Sempre gostei dessa época e, até hoje, ouço músicas natalinas durante o ano todo. E gosto de dar presentes sem que seja uma data NATALícia. De alguma forma, o tempo, os rumos e desarrumos da vida, as despedidas sem oportunidade de dizer adeus me mostraram que o essencial do Natal permanece: Deus se fez presente entre as pessoas e, por isso, podemos ser um presente para os outros e eles são um presente para nós. E é necessário,
imprescindível, que essas pessoas fiquem sabendo de sua importância, assim como a Boa Notícia do nascimento se es-palhou (como palha ao vento): não amanhã ou depois, mas agora, enquanto há tempo e voz ou papel ou internet. Hoje, sem o calor do Natal brasileiro, com neve de verdade no lugar do algodão, com muitas lâmpadas no lugar das poucas velas, sem medo de Papai Noel (pena...), co
m bicicleta de várias marchas, sem pai
nem mãe, mas com irmãos, sobrinhos, amigos... de repente me deu vontade de escrever tudo isso para me relembrar de como a vida tem sido generosa comigo, desde sempre, e de que o Natal pode e deve ser celebrado todo dia, pois a vida é presente valioso. Eu só queria passar um pouco disso adiante.

Obrigado pelo presente da sua amizade. Tenha um abençoado Natal! Simples e com essência.

11 de agosto de 2009

ups!


... e no meio da aula, um anjo passou voando sobre minha cabeça. Um anjo de asas barulhentas. Anjos não deveriam atrapalhar os estudos...

11 de junho de 2009

Como libertar-se do excesso de liberdade?

9 de junho de 2009

universono


É noite. Algumas nuvens servem de sobrancelha para a lua, que pisca,
preguiçosa.

cacos


Um dos momentos mais tristes que recordo da minha infância foi ver, pela última vez, minha cachorra Violeta. Nunca mais vi olhos tão tristes como os dela naquele dia. Tristes e profundos, como os de um ser humano que se deixa morrer. É, a morte já estava dentro dela. O mais impressionante e triste foi saber que alguém, por maldade, tinha misturado vidro moído na comida dela. Vidro moído. É, a tristeza daquele dia me fez sentir como se eu também tivesse engolido vidro. Moído. Acho que, desde criança, tenho coração de vidro, moído já inúmeras vezes.

8 de junho de 2009

Lancelot



Esses casarões europeus, gigantíssimos, tri-seculares, enraizados entre pinheiros não menos velhos; esses casarões, com suas fuças-chaminés fumegantes e seus telhados de escamas enormes. Esses casarões são dragões petrificados.

3 de junho de 2009

da janela do trem



Árvores nuas, mas não mortas. A carcaça de uma fábrica. Abandonada. Uma ponte meio-construída. Abandonada. Duas crianças na estrada estreita. Abanando. Nada. Túnel escuro – com as lanternas brincando de pega-pega. O túnel, num arroto louco, vomita o trem. Para outro túnel logo fazer o contrário. Uma poça d’água tomando banho de sol. E o sol, banhando-se na poça, não se cansa de ser Narciso. E sorve até o último gole de si mesmo. O viaduto que voa sobre a copa das árvores de pêlo arrepiado. Quilômetros de trilhos e pedregulho cinza. Trilho que geme de dor. Dor fria, quando o trem passa. O sol, morto de sede, morre atrás das colinas para nascer no mar. Mas a água do mar não é potável. Maior viagem essa última frase. Viajandando. E as nuvens, hoje, estão sujas. Túúúúúúúnel. Muro alto ao lado da ferrovia para aprisionar o barulho. Do outro lado, o silêncio livre. Uma torre de igreja. “Esperanto” – escrito com letras grossas no muro. Esperando. Espera. Andando.

1 de junho de 2009

On the road again...

Hoje estou orgulhoso da minha dor.

Tentei aprender a andar de inline-skate. Nem sei se é assim que se chamam. Tenho que descobrir, urgentemente: para superar um medo, é necessário dar-lhe um nome.

Lembrei de quando aprendi a andar de bicicleta, há mais de duas décadas: numa velha monark-barra-circular, alta demais para o meu tamanho, a perna atravessada por dentro daquele círculo de metal, o assento, sem mola, batendo feito louco, o cheiro de poeira, o gosto de poeira... O sentimento foi parecido.


Resgatei um tipo de ânimo que há tempos estava escondido. Mais por teimosia que por vontade. Mas hoje tive muito mais medo que daquela vez. Por isso, os protetores nos joelhos, cotovelos e mãos. Mas o espírito, livre! Eu consegui me movimentar, sozinho, por uns cento-e-tantos metros. Percebi que, com rodinhas embaixo dos pés, conseguir ficar parado já é uma vitória. E é um tapa na cara da lei da gravidade (eu, um fora-da-lei? hahaha!). Mas, não demorou muito e ela bateu de volta . Agora tô aqui, de braço esfolado. Mas que dor boa!


Redescobri que uma boa “ralação” é inevitável para recuperar a auto-estima. E eu, animado, vivo a cem-por-hora. Agora, só resta aprender a frear. Sai da frente, mundo!

27 de maio de 2009

Se


Se um dia eu me sentir triste,

triste mesmo, a querer morrer,

quero poder me lembrar do dia de hoje,

em que me sinto alegre a não poder mais,

transbordante de sorrisos e de bem-querer.

Se um dia eu me sentir triste,

triste mesmo,

quero poder me lembrar do vento morno

soprando em minhas costas, como hoje,

dos brotos novos acariciados pelo sol,

da inspiração que este momento me traz.

Se um dia eu me sentir a querer morrer,

que morra!

Não por ser triste, mas de alegria incontida.

zum

Deus sempre nos manda alguma coisa que nos move do nosso comodismo. Às vezes, é uma idéia nova, um filho, um novo amor, um projeto...

Ou uma mosca chata.

eterna-idade

Seria a eternidade uma ampulheta sem areia?

26 de maio de 2009

sorriso da caveira


O pior não é imaginar que um dia vou estar morto, putrefato, minhas carnes se desfazendo feito gelatina fora da geladeira. O pior é pensar naqueles vermezinhos famintos no meu corpo e eu, sem poder reagir.
Desde já morro de cócegas!

( )


É incrível como dependo de coisas transparentes: de ar, de óculos, de água, de sonhos...

des-blue


Hoje choveu tanto que o céu azul desbotou.

de ver verde




De tanto olhar paisagens,
meus olhos ficaram
verdes