11 de junho de 2009

Como libertar-se do excesso de liberdade?

9 de junho de 2009

universono


É noite. Algumas nuvens servem de sobrancelha para a lua, que pisca,
preguiçosa.

cacos


Um dos momentos mais tristes que recordo da minha infância foi ver, pela última vez, minha cachorra Violeta. Nunca mais vi olhos tão tristes como os dela naquele dia. Tristes e profundos, como os de um ser humano que se deixa morrer. É, a morte já estava dentro dela. O mais impressionante e triste foi saber que alguém, por maldade, tinha misturado vidro moído na comida dela. Vidro moído. É, a tristeza daquele dia me fez sentir como se eu também tivesse engolido vidro. Moído. Acho que, desde criança, tenho coração de vidro, moído já inúmeras vezes.

8 de junho de 2009

Lancelot



Esses casarões europeus, gigantíssimos, tri-seculares, enraizados entre pinheiros não menos velhos; esses casarões, com suas fuças-chaminés fumegantes e seus telhados de escamas enormes. Esses casarões são dragões petrificados.

3 de junho de 2009

da janela do trem



Árvores nuas, mas não mortas. A carcaça de uma fábrica. Abandonada. Uma ponte meio-construída. Abandonada. Duas crianças na estrada estreita. Abanando. Nada. Túnel escuro – com as lanternas brincando de pega-pega. O túnel, num arroto louco, vomita o trem. Para outro túnel logo fazer o contrário. Uma poça d’água tomando banho de sol. E o sol, banhando-se na poça, não se cansa de ser Narciso. E sorve até o último gole de si mesmo. O viaduto que voa sobre a copa das árvores de pêlo arrepiado. Quilômetros de trilhos e pedregulho cinza. Trilho que geme de dor. Dor fria, quando o trem passa. O sol, morto de sede, morre atrás das colinas para nascer no mar. Mas a água do mar não é potável. Maior viagem essa última frase. Viajandando. E as nuvens, hoje, estão sujas. Túúúúúúúnel. Muro alto ao lado da ferrovia para aprisionar o barulho. Do outro lado, o silêncio livre. Uma torre de igreja. “Esperanto” – escrito com letras grossas no muro. Esperando. Espera. Andando.

1 de junho de 2009

On the road again...

Hoje estou orgulhoso da minha dor.

Tentei aprender a andar de inline-skate. Nem sei se é assim que se chamam. Tenho que descobrir, urgentemente: para superar um medo, é necessário dar-lhe um nome.

Lembrei de quando aprendi a andar de bicicleta, há mais de duas décadas: numa velha monark-barra-circular, alta demais para o meu tamanho, a perna atravessada por dentro daquele círculo de metal, o assento, sem mola, batendo feito louco, o cheiro de poeira, o gosto de poeira... O sentimento foi parecido.


Resgatei um tipo de ânimo que há tempos estava escondido. Mais por teimosia que por vontade. Mas hoje tive muito mais medo que daquela vez. Por isso, os protetores nos joelhos, cotovelos e mãos. Mas o espírito, livre! Eu consegui me movimentar, sozinho, por uns cento-e-tantos metros. Percebi que, com rodinhas embaixo dos pés, conseguir ficar parado já é uma vitória. E é um tapa na cara da lei da gravidade (eu, um fora-da-lei? hahaha!). Mas, não demorou muito e ela bateu de volta . Agora tô aqui, de braço esfolado. Mas que dor boa!


Redescobri que uma boa “ralação” é inevitável para recuperar a auto-estima. E eu, animado, vivo a cem-por-hora. Agora, só resta aprender a frear. Sai da frente, mundo!